segunda-feira, dezembro 31, 2007

Na pétala depõe

Pega no teu orgulho e faz dele matéria de convicção, e nada mais.

segunda-feira, dezembro 24, 2007

Tu

Porque o amor é feito de pétalas e fogo líquido, do mal e do bem no maior e intenso combate.

Porque o amor é feito na estranheza do acordar, na solidão estarrecida que olha o rosto do outro.

Nada levarei comigo, diz, nem a morte na bagagem.

O teu rosto é o sopro que passa e acende, e nesse fogo permanece.

Toco-te, e até o nada se enche de palavras e silêncios, como se tivesse veias.

Não haver um dia em que não te ame, gostaria.

segunda-feira, dezembro 17, 2007

Do servo e livre arbítrio

Temos um espelho curioso e tenaz. Porém em nós, somos a tensão de manipulação do outro em nosso proveito, em nosso máximo proveito. Somos os violentadores do outro, os salteadores da sua carne, deuses déspotas do nosso fechado e fugidio universo. Por dentro tanta maldade e confusão, susto mortal. Tudo depende do tamanho da nossa mentira, da tenacidade espelhada. Nenhum de nós, mesmo nenhum, aguentaria ver-se a si próprio na verdade, nem sequer num piscar de olhos. E é sabendo disso, que de tal fugimos como o diabo foge da cruz, precisamente aliás. A ética e a estética, claro. Não passam da imagem da nossa mentira. O sorriso que espelhamos, pobres de nós, as tretas que contamos uns aos outros. Os mais convictos são evidentemente os mais perigosos, os que propagam o mal com mais cegueira. Mas o que é incompreensível, absolutamente, é que o inverso seja igualmente verdade: o sentido de todos os nossos anseios, ser a bondade e a beleza. E no entanto, é confusamente o que se passa, e nenhum juízo humano pode dar conta de tal. Isto também se propaga, também se desenha, e só a voz dupla nos dá rosto, a beleza e a maldade, o crime e a santidade, a ira e a ternura. Olhar a história da humanidade, assim como a nossa própria e pessoal, é contemplar o impossível desenrolando-se. O assassinato e violação contínuos entre mães, pais, filhos, assim como o seu mútuo amor e alegria. É por isso que só a cruz nos define, uma negação, uma intercessão de contrários. A monstruosidade esplendorosa de que falam os mais lúcidos, os da lucidez que dói mais. E o mais estarrecedor, é sabermos que não estamos em nós, em nenhum momento, nem quando destruímos e oprimimos, nem quando cuidamos e libertamos. Onde afinal o nosso lugar, dá ideia que não sabemos, mas apenas entrevemos, sonhamos. Isto parece um monólogo de bêbedo, claro, ou uma impressão deprimida duma solidão assustada, o que pode confirmar-se pelo próprio sentido do que é dito: são precisamente os mais perdidos dentre nós, que sabem o que se passa connosco, eles que tocam o fundo. São aliás eles, os primeiros a reconhecer o deus que revela, e não os legalistas, que com o seu saber, expulsam a verdade dos templos.

segunda-feira, dezembro 10, 2007

Dois

Tornar-se bondoso, é isso, disse então, sozinho que estava no cadafalso.

segunda-feira, dezembro 03, 2007

Senso

Que história é esta que freme dentro das nossas, de todas as nossas?