segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Escolástica

E perante o que está para lá do ser e da vida, do estar e da morte – calamo-nos todos, pessoas e personagens, anjos e demónios, fadas e gnomos, frutos e animais, águas e pedras vivas.

Porque o Teu nome não é palavra. Fizeste-Te palavra sim, rasgando o silêncio do mundo com o Teu silêncio maior.

E nós reconhecemos que a nossa surdez, era por Ti vivo que anseava.

Surdos ficamos ao que Te dizes, mas porém o anseio torna-se resposta e apelo, acolhimento silencioso do que o transborda e serena. Foi toda a criação que fechou e fecha os olhos à Tua vinda, obscuramente transfigurada no Teu esplendor.

Suspensa no tempo todo que em Ti poisa e sustentas e fundas, pois que nada se traz a si próprio à vida e tudo tem um início, até o tempo e as coisas todas.

(Demonstração nenhuma, tão só a bruta e cega e surda constatação perante o haver algo, seja o que fôr, nós próprios na ocorrência. Suspiciosa constatação. Uma espécie de inevidente de facto.)

Mais nada de nada temos e tememos, e nessa tensão corremos e escorremos e fugimos, em direcção ao nada que nos preenche e avança, olhando de frente e de fundo ou na ilusão toda desfocando, como se não nos afundássemos em nós próprios tal água que se transforma em secura.

Tu és a sede da própria água, a luz da própria presença, o infindo em que tudo finda e se define e aparece.

Tu és a cegante luz, a palavra da palavra, esse silêncio maior que a surdez.

Tu.

Só Tu.

Nada mais, absolutamente nada mais, e nesse excesso de Ti, transbordante – tudo Te é, indirectamente, e também nós, também eu, assim como aquele que estas palavras lê.