segunda-feira, julho 09, 2007

Call me Ishmael


Escuta, capitão, estás certo que o deus habita a tua voz e sopra nos teus actos, ou apenas esbracejas em alto mar?

E o marinheiro das cordas e dos mastros, o fugitivo do carvão e do convés, vê-los orientar também o leme, as velas e o comando?

Ouve o chamamento deles, o nosso e o teu, a voz que treme e atravessa as tempestades. Descansa e vigia na melancolia e nas calmarias.

Todo o barco é uma ilha, ou não é nada.

(Entrei aqui, disse ele, como se entrasse no primeiro dia de escola.)

Para que no fim e no naufrágio, haja sempre um de nós que sobreviva. Para que não se esvaia de ti, oceano, o murmúrio do fundo dos ribeiros.











Nota: Suspende-se aqui a actividade bloguística. Prevê-se e pretende-se o regresso na segunda-feira 1 de Outubro. Até lá, que a navegação a todos seja propícia. Um abraço.

segunda-feira, julho 02, 2007

Vinde no que já cá estás

Dá-nos a justiça que suporta o fracasso, a beleza que abraça o seu desaparecimento. Dá-nos a resignação livre, a resistência a tudo o que não é fundo nem deixa ver dentro. Dá-nos o lume doloroso da candeia, o som do oceano nas nossas veias.

(Que não nos mova o que pensamos ser mas a tua palavra em nós pronunciada.É fora do eu, que luz a última sílaba do nome tu.)

Dá-nos o grito do nosso nada, e o sussurro que em ti somos antes de nascermos. Abraça as nossas cinzas e reúne-as na tua infinidade, ó deus inefável e sem nome, em quem tudo é acto e passagem, que em nada se detém e tudo sustenta no silêncio maior.

(Porque o teu nome é o amor que és e te faz outro, e quem vê o outro a ti te vê.)

Dá-nos então, deus da distância infinitamente próxima, agora e sempre dá-nos mais uma vez, apenas mais uma vez e sempre dá-nos, ó deus no pequeno fogo dá-nos – o sussurro de nada ter e tudo louvar ámen.