segunda-feira, novembro 30, 2009

qualquer um tem os olhos do infinito.

segunda-feira, novembro 23, 2009

Habitação 3


para a Ana
aos amigos



Viver com os outros é uma escola do caraças. Falo de viver com, em dinâmicas de amor, filiações, amizade, o que fôr. Habitamos o mesmo lugar. É-se forçado, de uma maneira ou de outra, num momento ou noutro, a confrontar-se com o olhar do outro. Como ele se mostra, e nos mostra. Diz-nos muitas vezes coisas que não gostamos, ou em que não nos reconhecemos; faz-nos também considerar como nos vemos a nós próprios, em que o que não gostamos pode ser tanto mesmo assim, pode ser tanto o que afinal somos e agimos; e por outro lado, conhecer-se é também descobrir-se e fazer-se no embate à vida, nas nossas imprevisíveis reacções. Coabitar é navegar com, reunir fraquezas e desgostos, forças e esperanças. Sofremos em proporção também, claro, assim como a alegria: não há alegria mais funda do que a alegria do outro que nos invade, que se nos dá. Descobrimos aliás que é a unica alegria; e que uma alegria solitária, não partilhável nem mútua, é um sarcasmo disfarçado, uma espécie de mágoa existencial. (Notemos de passagem que sem o outro, Robinson está quinado.) Há também essa questão da morte, claro, e diz-se nos casamentos: “até que a morte nos separe”. Trata-se dum estertor de bom senso, toda a gente sabe que a morte é mais forte que tudo; mas pulsa no coração dos humanos uma mais tresvariada e transbordante notícia, e nesse sentido se invoca Deus; invocação que se anuncia no olhar mútuo com o outro, e com os outros; digamos que os amigos e amados que se convida não estão lá como assistência, são também riso e lágrimas do mesmo mistério, sangue e carne da mesma vida, dos dias que passam como um trilho no abismo e nós. Alguns vão trair, outros nós próprios traíremos; e outros as mãos conjuntas dançaremos; e aqui mesmo partilhamos esta coisa de estar vivos e acordados e a imensidão à nossa volta e por dentro. Na verdade, não se percebe bem o que nos liga e entranha, mas qualquer amor ou amizade que não se sonhe mais forte que a morte, não passa de vã pacotilha, de uma mera mercadoria, nada tem que ver com nada de autenticamente humano. Amar é dizer: quando estiveres a morrer, estarei lá contigo. Não te deixarei morrer sozinho, dar-te-ei a mão, o olhar, o corpo inteiro; é dizer: Não te deixarei morrer sem mais, vamos juntos até ao fim; dizer tão frágil, dizer que sabe que o rio do tempo se escoa, e que qualquer nada nos poderá separar, ferir para sempre; e que o fim é também e sempre um acto solitário, que se vive e morre sempre sozinho – ou com Deus, para dizê-lo de outro modo.

Assim é na casa, onde cuidamos e guardamos as nossas paixões, e as perdemos, sem jamais abandoná-las.

segunda-feira, novembro 16, 2009

Por vezes lembramo-nos, de que somos chamados a cair no fundo de nós próprios para o fulgor da vida, desabrigados.

segunda-feira, novembro 09, 2009

capuchinho vermelho

e a morte disse: rica conversa. e no mesmo ápice deglutiu aquilo tudo.

a morte é minha amiga, terá de dizer-se, na espessura do sangue e da carne.

aqui, a mente queda-se, pois apenas lida com assuntos. e a morte não é um assunto.

segunda-feira, novembro 02, 2009

Nota

Deus está no ser retirando-se por dentro do haver deste.