No entanto, manter a expectativa aberta ao impossível, abrangendo este – será algo que consigamos.
Nem pensar, precisamente. Quem sabe, escutando. Os frémitos das asas dos anjos, a brisa de Deus fora do sono e do sonho.
Quem sabe.
Ninguém precisamente. A flor se fosse pássaro, ou o espanto desejo. Quem sabe.
Depois do dia e da noite, raia a aurora que rasga os céus.
Aí mesmo, mesmo à frente, e atrás, e de todos os lados e por dentro e por fora.
Aí mesmo.
A voz que ao escutar-te, te diz. O teu nome, é sempre pelo nome mais próprio do que aquele em que te pensas ter – que o desejo de Deus em ti ocorre. Nada mais é, aliás, que o próprio Deus desejando-te por dentro e por fora, desde há eternidades antes do existir, antes da noite e do dia e das velozes constelações, durante o sangue e a dor do primeiro parto, do único surgimento de todas as coisas.
Trauma primeiro, coisa que não podes olhar e te precede e te é profundamente no limite de ti, na doação de ti a ti e ao resto, às coisas e às forças e ao outro e à morte toda. Deus é o que esquecemos com mais veemência e continuidade. Violência amorosa de tudo, que nenhuma vida criada contempla sem morrer. Pura presença para lá de todo o nada.
Disto só a oração sabe, o lugar onde até os anjos fecham os olhos.
Mesmo aí um pouco á frente de ti, estrita e imediatamente aí.
A morte é uma laranja que se descasca. A morte é o estar aqui, a casa onde todas as pequenas vidas se sustentam no silêncio de si, a vida somente nada mais antes de toda a palavra, o primeiro frémito e nada mais. Onde tudo é belo e bom simplesmente porque é, antes de todos os actos e momentos. Antes dos animais falarem e dos humanos se assustarem.
Onde todas as respirações estão suspensas, as respirações de todos os hojes e amanhãs desde sempre.
A morte é o útero da vida plena, imediatamente agora e nunca. Mas quem o poderá dizer? Sabe a criança isso. Como podemos nós saber isso, porquê que o dizemos, como o dizemos, porque raio inventámos Deus e o chamamos?
Onde Deus se inventa em nós.
A resposta, soa no fim de cada qual. Mas não se diz, não se diz o que está antes da palavra, o nome antes do nome dito. Aí, onde somos, não nos podemos dizer uns aos outros, apenas darmo-nos no silêncio maior da doação. O amor é o silêncio de todas as palavras, um simples olhar mutuamente acompanhado, um sorriso e uma lágrima e a boca que se entreabre sem ser para falar.