segunda-feira, janeiro 29, 2007

Branco 2

Ele, que endureceu o coração do faraó, e lhe matou o filho - condena-lo-á?

6 Comments:

Blogger Andante said...

Claro que não!
Ele é Perdão e Disponibilidade constantes.
Ele é Amor e, pelo castigo, obrigou o faraó a sentir os rectos caminhos da Verdade.
Pobre Ramsés II que queria ser igual a Deus, mas não passava de um deusinho com pés de barro.

Beijos peregrinos

11:12 da manhã  
Blogger Vítor Mácula said...

Olá, Andante.

Perturbador.

Não sei se a morte dum filho pode ser entendida como pedagogia ético-religiosa… talvez. É a partir da brutalidade da existência (uma tia minha dizia que tinha perdido a fé num deus misericordioso e bom quando um seu irmão morreu aos dezoito anos com tuberculose) que a interpelação máxima ao sentido da vida se nos arrepanha do estômago aos neurónios (isto é, entre a negação e o clamor “à Job”, é o dilema perante a injustiça flagrante da vida – que tinha o filho do faraó que ver com a pretensão deste à divindade, para nos ficarmos no exemplo bíblico?).

Beijos caminheiros ;)

11:32 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Ele, que não poupou o seu próprio Filho, mas entregou-o à morte, poderá ser perdoado?

3:21 da tarde  
Blogger Vítor Mácula said...

Alô, JS.

O que é curioso no cristianismo é a simultânea superação e negação da morte, tornando esta um mal superado que urge continuar a não aceitar. Ao mesmo tempo que se erradica a morte da filiação directa de Deus – sendo inerente ao pecado, ao desvio da fonte de vida – torna-se Deus senhor dela, visto que o é da vida.

Quanto a mim, isto dá pano para mangas históricas e filosóficas.

Lembro-me da butade de Jorge Luís Borges acerca da crucificação ser um suicídio de Deus ;)

Seja como for, a entrega à morte de Jesus anula que no cristianismo a vida biológica possa ser considerada o valor supremo e o critério máximo de orientação (“Não temais quem vos pode matar etc”). Este aliás, parece ser o espontâneo critério que a mamã natureza nos proviu (prazer/desprazer e sobrevivência de si e da espécie), anterior, por assim dizer, à interrogação religiosa, ou até filosófica – o que não implica que esta os negue, embora haja uma alargada tradição multireligiosa e filosófica nesse sentido (Sócrates: a filosofia é aprender a bem morrer; Wittgenstein: Saber morrer corresponde a uma noção e forma de vida adequada a si, justa; e escuso de dar exemplos religiosos ;)

Não há maior prova de amor do que morrer pelos que se ama etc etc etc

Não se trata portanto de afirmar que ela é um bem, ou que o seu sentido reside em si-própria, mas que é aferida enquanto meio de, resultado de, etc

Ressuscitar implica morrer, como é evidente, tal como Cristo.

Morre-se para renascer; morre-se para a vida infinda; morre-se por outrém, pela dignidade, por uma afirmação; morre-se naturalmente, acidentalmente; morre-se por tédio, por desespero, dor, tristeza. Morre-se.

Como se morre. Como nos relacionamos com a morte. Como a simbolizamos (isto é, a unimos conscientemente à vida).

Mas a morte natural das crianças continua a ser um berbicacho para uma (im)possível teodiceia.

O que é curioso também, para aferição da espontaneidade natural, é que os animais parecem tender a morrer tranquilamente.


Abraço.

PS: Adquiri o “Feu sacré” do Debray, saiu em bolso na Gallimard ;) Mas ainda apenas o folheei…

PS 2, relativo ao teu comentário: Obsessão minha: paralelo Job/Cristo.

5:21 da tarde  
Blogger Goldmundo said...

Ora, um oásis no deserto que vai daqui ao dia 11.

Abraço em Cristo.

8:25 da tarde  
Blogger Vítor Mácula said...

Strong christian blood, maister ;)

1:02 da tarde  

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