Agulhas espetam-se nas veias
da mão. Um canário
no banho revolve
os lençóis das tetralogias. O dedo
aponta para os sumos.
Devolve o jarro
às flores, respira
a colher da chávena.
Os fósforos acenam
cigarros nos escritórios.
Um curso escolar
devora vómitos
e alucinações.
Em 87 cães entre gatos
um lembra um caderno
de civilização, um livro.
Uma pasta de rebuçados
custa 500 paus, as montras
doem nos espelhos
das pensões. As pontas
enchem casacos negros
de bolsas e malas.
O balcão aborrece
as bicas e desatina
os salários.
Um sono acorda dentro
duma pedra. O lago dói
numa sapiência binária.
São cinco minutos com
preenchimento, sem número
ou cotação. Na padaria
engolem-se carros e
estradas de açúcar.
As bebedeiras despertam
optimismos através
de rebuçados de mentol.
Os índios trabalham
nas pontes, nos subterrâneos,
nos prédios da minimização.
Batemos nos cafés, os bolos
pedem esquecimento e unhas
roídas. Enchemos as deixas de
vãs palavras. O frio
destrói-nos os casacos.
Um leopardo abre as mãos
de vilipendiados desejos. Dirás
que é o fim dos tempos,
o começo dos dilúvios
e a morte dos gafanhotos.
Um esquilo comerá
ressacas de guarda-chuva,
a referência extinguiu-se
saturada por si própria.
Um isqueiro é sempre novo
quando as chamas desligam
tectos da madrugada. Os
anos passados embebedam-se
de herméticas lições. Apagam-se
os cigarros dentro do filme
de última sessão. Já não
se pode acreditar em nada,
os gatos crescem pelas
pirâmides.
Tétricas portas resolvidas
não resolvem
o mistério. Os conhecimentos
são disparados chumbos
da frustração,
do milho apreendido. Ser
uma cã desesperança,
um texto que decorre entre
os pelos do testamento.
Apreciar desimpedimentos,
pastagens de lua tramada.
Sê voraz, colesterol,
armado de dias e pastas
dentífricas. Esquece
o odor queimado
das torradas, o galão
a doer-te na palavra.
Agarra esses neurónios,
essa consciência
de doidice, essa sabedoria
descontrolada. Porque
te rói o sentimento,
te provoca o desafio,
a humildade. Olha aí
o cansaço, a criança-porno
acordada em borga-
-borga de gargalo
e vermelho assalto.
A noite toda. Uma
prova na noite
amanhã. Começar
e sonhar com um grupo,
um conto de horas
blindadas pelo século.
Hoje vingarão os cabelos
frisados, nem sabes se
morreste ou as cores
se intensificaram. Enlouquecer
é pensar são dentro
da doença.
O tédio esquece os dentes
e o martelo rebola
na infância. Dirás
não-sei-o-quê, o teu nome,
um olhar de cigarro aceso.
Olham para ti,
esquecem os tempos,
esta moral social
que se evola no odor
de bacalhau assado.
Sou roto na distância
e falo sempre a sério,
dói o coração na espera
das cinco. És maluco
e falas sempre a sério.
Tu
aparecerás nas sílabas
mortalhadas
dum circo de rua, duma
séria
fantochada de luvas esquecidas.
É essa lógica que escreve,
essa órquidea agarrada à ideia
como uma lapa,
um revólver de
comboio.
Assim será. – Sorriem no teu corpo
- boca, parede cinzenta.
Aí estás.
E tudo mais, Mário,
e tudo mais.