Sobre tudo no deserto! Haha! Este Vítorzinho! Começo impecável.
É verdade. goldmundo:
Não nos esqueçamos dos nossos irmãos Orientais, que se retiram para a Floresta... ou o nosso Frei Agostinho que se retirou para a Arrábida... ou os Monges dos Capuchinhos...
Parece que em Portugal... são mais as Florestas como local de retiro... (enfim, antes de arderem). Desertos, há os emocionais... os desertados de amigos...
O deus da floresta, ao contrário do do deserto, é um deus sem majestade, Terpsichore. No deserto não podemos ver o nosso rosto, a não ser talvez na enganosa miragem.
(suponho que o vitor dirá que no deserto não precisamos de um rosto...)
Huuuum... Junger refere-se à floresta como um passo para trás, um retiro do mundo, um retorno à origem de si.
Curiosa imagem.
Se se colocar o deserto como um passo para a frente, um lance para a finalidade de si.
O alfa e o ómega.
Entre ambos, a temporalidade acelerada, o mundo, a zona de agitação. Que por si, na sua incompletude, seria – a região da não-verdade, a possibilidade de ilusão, de irrealidade, de perdição.
PS: Abraço, maister.
PS 2: O Outono é um tempo florestal ;)
PS 3: 3 beijinhos também, Terpsichore, um da vitória, outro da mácula, e o terceiro do indizível de ambos :)
PS 4: Cristianismo: não abandonar o mundo, mas configurá-lo na tensão entre a floresta e o deserto.
PS 5: O rosto, pois... a ausência de rosto não será rosto?... Qual o rosto do extático?... Ou da miragem?... Huuuum...
PS 6: Gnomos e fadas na floresta, clareiras escondidas e tocas...
Pois. Talvez não precisemos dos rostos, que levamos para o deserto (ou senão nem estaremos no deserto; mas este nos doa um rosto, ou transfigura os rostos abandonados. Huuuum...
Só se entreolham rostos. Um olhar que não dialoga com o que foca e desfoca é um olhar morto.
Caminho. As pedras e os prédios olham para mim com dor e furor. A cidade rasga-se, o sono desperta, continuo a caminhar. A reflexão é um momento indispensável à orientação, mas não é fundante nem primeiro, e também não é final. É um dos instrumentos de apuramento do olhar, tocar, interviver. A reflexão é a paragem do autocarro, o cais silente das viagens e visitas. Respiro, a cidade caminha em mim.
desejo e deserto sao incompativeis o asceta parte para a total aniquilaçao de si na procura de si, sem rosto ele transforma-se em anjo ou demonio supra si mesmo é esta a experiencia do encontro com deus?
Desejo de deserto e deserto de desejos… Não sei se se trata duma total aniquilação de si. Trata-se sem dúvida duma aniquilação de determinados modos de apreensão de si: a auto-representação, a auto-análise, a sociabilidade, a construção cultural de si etc etc etc etc O reencontro consigo em Deus é uma violentação do encontro espontâneo que temos de nós próprios; mas o sem rosto é uma fase do exercício, não a sua finalidade. Pode também haver um regresso à representabilidade de si (auto-representação etc) mas que passa a orientar-se e situar-se a partir do encontro em Deus.
Sem rosto somos uma ausência, uma espera, uma busca ou uma morte morrida; os anjos e demónios possuem fulgentes rostos.
O nosso problema ocidental é muitas vezes pensarmos em termos de mútua exclusão, e as transcendências imanentes fazerem-nos confusão no discurso (porque na prática da paixão amorosa, por exemplo, ou da experiência estética, executamo-las na boa…;) X é em Y, Je est un autre…
Maister, fizeste-me lembrar a liminar afirmação de Lutero de que fora de Cristo é quase impossível distinguir o divino do demoníaco... Acrescente-se que só da mentira se chega à verdade (senão já lá se estaria, não?) Mas há enganos ou confusões que não constituem caminho mas sufoco. Somos um misto de verdade e mentira em construção. Oriento-me para e a partir de qual dos polos, eis a questão... Abraço
Vítor, deixa-me dizer uma coisa muito importante. Só há um pólo :)
Parece uma lapalissada, mas não é. E tanto os antigos pagãos sabiam isto que ainda hoje se fala no "árctico". Arctos: o mesmo nome que foi dado a Artur-o-rei. O demoníaco não é um outro pólo, mas a inversão do Único.
Também me faz hesitar esse uso que fazes de verdade-mentira. A mentira não é todo o imenso campo da quase-verdade, a seta disparada ao alvo que falhou e caiu ao lado: o mundo. A mentira é SÓ a inversão: a flecha que tem como alvo o próprio coração do arqueiro.
Curiosamente, Set, o deus que inventou a cruz invertida, era também do deserto...
Para ti, humano que caminhas, constitui-se em dois polos de tensão: o eco e a dissonância.
O mesmo assim: cristologicamente, a unidade primeira é dinamicamente tripolar. A criação não é uma emanação directa duma impassível divindade.
Seja como for lá para os lados do divino, é muito difícil para o nosso lado distinguir concretamente a quase-verdade da inversão, ou do caminho para esta.
A seta directa e totalmente invertida, sim, essa é o sufoco, a morte.
(Um coração outro que se meta entre o teu e a seta, um coração outro que não soçobre à seta invertida. Ou então estás feito ao bife, se pensas poder distinguir com clareza o sentido da seta. A miopia é lixada ;)
O nada não é simples e formalmente uma ausência pacífica de ser - mas um vórtice que suga, uma atracção. Daí a terrível vertigem.
Em suma confusa: o facto de as rectas se cruzarem no infinito, não anula que no quantitativo não se separem.
Em suma confusa 2: da quase-verdade podes tender para a verdade ou para a mentira. Tens a certeza para qual concretamente tendes? Ou melhor, tender, tendes para ambas, mas para qual apontas o teu esforço?... O mundo, essa quase-verdade, na tradição apocalíptica, orienta-se pela inversão de si, por exemplo.
Em suma confusa 3: A vida é movimento. Não há a verdade, a quase-verdade e a mentira, fixas e separadas num sereno ecrã. Pelo contrário, o que há é o combate.
E sim, somos um misto de inversão. Mesmo se a renegamos (que raio renegaríamos então?...) Quem detém a conversão finalizada?...
20 Comments:
Bem regressado Vitor.
Até no deserto acontece vida nova...
Abraço em Cristo
Olá, Joaquim.
Sobre-tudo no deserto… ;)
Abraço em Cristo.
Um tempo para o deserto e um tempo para a floresta: é esta a pulsação do mundo.
ola vitor!
foram boas as férias?
3 beijinhos: um da fada, um da musa e um meu... :)
Sobre tudo no deserto! Haha! Este Vítorzinho! Começo impecável.
É verdade. goldmundo:
Não nos esqueçamos dos nossos irmãos Orientais, que se retiram para a Floresta... ou o nosso Frei Agostinho que se retirou para a Arrábida... ou os Monges dos Capuchinhos...
Parece que em Portugal... são mais as Florestas como local de retiro... (enfim, antes de arderem). Desertos, há os emocionais... os desertados de amigos...
O deus da floresta, ao contrário do do deserto, é um deus sem majestade, Terpsichore. No deserto não podemos ver o nosso rosto, a não ser talvez na enganosa miragem.
(suponho que o vitor dirá que no deserto não precisamos de um rosto...)
Huuuum... Junger refere-se à floresta como um passo para trás, um retiro do mundo, um retorno à origem de si.
Curiosa imagem.
Se se colocar o deserto como um passo para a frente, um lance para a finalidade de si.
O alfa e o ómega.
Entre ambos, a temporalidade acelerada, o mundo, a zona de agitação. Que por si, na sua incompletude, seria – a região da não-verdade, a possibilidade de ilusão, de irrealidade, de perdição.
PS: Abraço, maister.
PS 2: O Outono é um tempo florestal ;)
PS 3: 3 beijinhos também, Terpsichore, um da vitória, outro da mácula, e o terceiro do indizível de ambos :)
PS 4: Cristianismo: não abandonar o mundo, mas configurá-lo na tensão entre a floresta e o deserto.
PS 5: O rosto, pois... a ausência de rosto não será rosto?... Qual o rosto do extático?... Ou da miragem?... Huuuum...
PS 6: Gnomos e fadas na floresta, clareiras escondidas e tocas...
Pois. Talvez não precisemos dos rostos, que levamos para o deserto (ou senão nem estaremos no deserto; mas este nos doa um rosto, ou transfigura os rostos abandonados. Huuuum...
O Passo da Floresta, sim.
John Buchan, que talvez não fosse crente, e que detinha a chave de caminhos abissais:
"Os deuses só nos falarão face a face quando nós próprios tivermos um rosto".
Certeiro Buchan.
Só se entreolham rostos. Um olhar que não dialoga com o que foca e desfoca é um olhar morto.
Caminho. As pedras e os prédios olham para mim com dor e furor. A cidade rasga-se, o sono desperta, continuo a caminhar. A reflexão é um momento indispensável à orientação, mas não é fundante nem primeiro, e também não é final. É um dos instrumentos de apuramento do olhar, tocar, interviver. A reflexão é a paragem do autocarro, o cais silente das viagens e visitas. Respiro, a cidade caminha em mim.
(Bom dia!)
... por continuar... :)
desejo e deserto sao incompativeis o asceta parte para a total aniquilaçao de si na procura de si, sem rosto ele transforma-se em anjo ou demonio
supra si mesmo
é esta a experiencia do encontro com deus?
É essa a experiência do encontro com os deuses do engano.
… sempre, Terpsichore… :)
Olá, Kirilov.
Desejo de deserto e deserto de desejos… Não sei se se trata duma total aniquilação de si. Trata-se sem dúvida duma aniquilação de determinados modos de apreensão de si: a auto-representação, a auto-análise, a sociabilidade, a construção cultural de si etc etc etc etc O reencontro consigo em Deus é uma violentação do encontro espontâneo que temos de nós próprios; mas o sem rosto é uma fase do exercício, não a sua finalidade. Pode também haver um regresso à representabilidade de si (auto-representação etc) mas que passa a orientar-se e situar-se a partir do encontro em Deus.
Sem rosto somos uma ausência, uma espera, uma busca ou uma morte morrida; os anjos e demónios possuem fulgentes rostos.
O nosso problema ocidental é muitas vezes pensarmos em termos de mútua exclusão, e as transcendências imanentes fazerem-nos confusão no discurso (porque na prática da paixão amorosa, por exemplo, ou da experiência estética, executamo-las na boa…;) X é em Y, Je est un autre…
Um abraço
Maister, fizeste-me lembrar a liminar afirmação de Lutero de que fora de Cristo é quase impossível distinguir o divino do demoníaco... Acrescente-se que só da mentira se chega à verdade (senão já lá se estaria, não?) Mas há enganos ou confusões que não constituem caminho mas sufoco. Somos um misto de verdade e mentira em construção. Oriento-me para e a partir de qual dos polos, eis a questão... Abraço
Vítor, deixa-me dizer uma coisa muito importante. Só há um pólo :)
Parece uma lapalissada, mas não é. E tanto os antigos pagãos sabiam isto que ainda hoje se fala no "árctico". Arctos: o mesmo nome que foi dado a Artur-o-rei. O demoníaco não é um outro pólo, mas a inversão do Único.
Também me faz hesitar esse uso que fazes de verdade-mentira. A mentira não é todo o imenso campo da quase-verdade, a seta disparada ao alvo que falhou e caiu ao lado: o mundo. A mentira é SÓ a inversão: a flecha que tem como alvo o próprio coração do arqueiro.
Curiosamente, Set, o deus que inventou a cruz invertida, era também do deserto...
abraço
Sim. Um. Em "si". E mesmo assim...
Para ti, humano que caminhas, constitui-se em dois polos de tensão: o eco e a dissonância.
O mesmo assim: cristologicamente, a unidade primeira é dinamicamente tripolar. A criação não é uma emanação directa duma impassível divindade.
Seja como for lá para os lados do divino, é muito difícil para o nosso lado distinguir concretamente a quase-verdade da inversão, ou do caminho para esta.
A seta directa e totalmente invertida, sim, essa é o sufoco, a morte.
(Um coração outro que se meta entre o teu e a seta, um coração outro que não soçobre à seta invertida. Ou então estás feito ao bife, se pensas poder distinguir com clareza o sentido da seta. A miopia é lixada ;)
O nada não é simples e formalmente uma ausência pacífica de ser - mas um vórtice que suga, uma atracção. Daí a terrível vertigem.
Em suma confusa: o facto de as rectas se cruzarem no infinito, não anula que no quantitativo não se separem.
Em suma confusa 2: da quase-verdade podes tender para a verdade ou para a mentira. Tens a certeza para qual concretamente tendes? Ou melhor, tender, tendes para ambas, mas para qual apontas o teu esforço?... O mundo, essa quase-verdade, na tradição apocalíptica, orienta-se pela inversão de si, por exemplo.
Em suma confusa 3: A vida é movimento. Não há a verdade, a quase-verdade e a mentira, fixas e separadas num sereno ecrã. Pelo contrário, o que há é o combate.
E sim, somos um misto de inversão. Mesmo se a renegamos (que raio renegaríamos então?...) Quem detém a conversão finalizada?...
Mas sim, absolutamente: só há um polo ;)
Abraço, ó faz-pensar!
Há a bússola e há a estrela polar. Não as tenho senão pelo que os meus olhos virem.
Ao Pólo, nunca ninguém o viu.
Rosa my(s)tica, ora pro nobis.
Mas sim, o fogo que trazes é o do leão do deserto. E ainda bem.
Dêem-nos os nervos da gazela, a ligeireza e o susto que invadindo a fortaleza e o rugido, nos salvem da dureza cega.
(Mulher do deserto
e mãe do renascer,
ora pro nobis.
Mulher do presente
e mãe do regressar,
ora pro nobis.
Mulher da terra
e mãe do amor,
ora pro nobis.)
Bom fim de semana!
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