Cristal
Porventura tenho muito pouca crença, seja no que for, tudo me parece estar a mais, para lá das palavras “deus”, “morte”, “tu”. Não que não veja sentido nas ciências e saberes, todos os nossos discursos e disposições, as nossas análises e intuições, lirismos e afirmações de sentido. Mas no fim de certas tardes, realmente, tudo me parece tão circunstancial. Excepto, talvez, os silêncios depois de certos trechos de Bach, ou a praia do norte em certos dias de inverno. E o teu rosto à luz da manhã, qualquer manhã.
Há palavras, decerto, palavras mais, mas quais, as que espelham e revelam, inventam e desvelam. Quais. Quais não trazem na boca o sarcasmo da desconfiança, do medo e da suspeita. Pois que são essas também, as do apelo.
8 Comments:
sem mein kampfs pouco resta, não sei se é disso que estás a falar. Mas (risos) que imenso conforto transpiras nesse teu deus, nossas mortes e no universal acolhimento duma boca antes da resposta. bah. numa emissão retrospectiva, o locutor afirma que a arte é o corpo do espírito e a guerra um ferro enfiado nas tripas. e esta, hein?
belas palavras para traduzir a vida...
beijos, mano
Oh blues, se te referes ao adolfo, teria infindas linhas em que cozer a minha crença, não sequer antes de a dar ao adolfo, mas que desde logo impedem e dissolvem tal crença nem que seja infimimíssimamente, a tal ponto que até a minha débil crença ou até descrença nelas recusa adolfos e adolfitos… se te referes a combates de mim e em mim, claro, tem sempre a ver… ah sim, há aquela de acusarem o ilustre blasfemo céptico raivoso ironista Cioran de fascismo (por causa de textos seus de juventude romena, e também pela seu total anti-utopismo, o que a bem ver deveria até fazer crer o contrário…) mas isso… também colocam o Houellebecq (risos) na direita… são superficialidades da telenovela mundana… esse conforto da fé, ‘tá certo… conforto que desloca do próprio conforto… comunhão, comunhão, comunhão… la guerre est un métier très dangereux, comme la poésie… Cendrars dum raio… este domingo tive um encontro religioso… pentecostes… foi tão comungal e epifânico… voltariámos à fé e ao conforto, sim… sim, sim, sim… a emissão retrospectiva e prospectiva que faz fulgurar o agora… comunhão orante… e talvez devesse ver mais televisão, se há locutores como o que citas… ;) bjocas blues
E que a vida nos traduza e nos traduzamos nela.
Bjocas vivas, mana
yeap, não era o adolfo, eram as ucorpias. bêjocas
A predisposição - em tudo emocional - das tuas crenças seria, no mínimo, insólita, não fosses cristão... Eu perdoo-te. :)
Abraço.
Ah, as ucórpias, dez mil vezes sim. Porque o sem lugar das utopias, quando estas se instituem em verdade exclusiva, dá cabo dos corpos. E estes, são a verdade situada e vivida dos eus. Ou se preferirmos: dá cabo do real. O que não significa, claro, que as utopias não constituam expressões do humano, e orientações deste. Mas é preciso cuidado em não tomá-las como "mais real que a vida", ou "sentido supremo", e coisas do género. Bjocucórpias, blues
Huuuum… pois, Klatuu… e tenho em crer ;) que a especificidade cristã está no “tu”.
Abraçólito
PS: A crença débil é dinâmica da fé forte.
PS 2: O perdão é dinâmica da reconciliação consigo próprio (a primeira, em que se fundam todos os combates e comunhões).
PS 3: Emoção, claro, fónix. Mas não só ;)
Enviar um comentário
<< Home