quarta-feira, maio 03, 2006

Etimologias 3

Deus – não é a verdade no sentido do seu conteúdo ser verdadeiro. Não se trata do enunciado “Deus qualquer coisa” ser verdadeiro ou falso. Deus é a verdade no sentido em que é aí, e só aí, em Deus – que se dá qualquer verdade.

As coisas não mudam na consciência mística, mostram-se tanto só iluminadas por dentro a partir do seu fundamento.

A verdade dum enunciado qualquer depende da coincidência com o verbo divino, explicita ou inexplicitamente – e torna-se anunciação deste.

Deus não é um conteúdo – antes um revelador de conteúdos.
Cristo é o humano revelado na sua inteireza de sentido.
O sentido do verbo divino não é o de ser um enunciado – é sim o que enuncia as coisas, tudo o que há e pode ou não haver.
Jesus é simultaneamente o verbo revelado, e uma singularidade própria e única.

Luz verdadeira de luz verdadeira – tanto só. Pura possibilidade de sentido, pura evanescência para lá do ser. Por isso incarna sem elidir nem destruir o humano singular em que incarna. E no fundo quase diria: sem lhe acrescentar nada, pois que é na sua inteira humanidade e singularidade, que se mostra o rosto de Deus, uma humanidade como a de outro qualquer, tão pequena e imensa como a de qualquer samaritano ou fariseu com os seus nomes próprios.

Deus - é o que dói no inacabamento de seja o que fôr, uma relação de amor ou uma descoberta científica, um pequeno almoço ou uma sublime obra de arte. Porque todas as coisas se buscam a partir de si próprias, e só encontram interrogação. Lá no fundo, lá no fim - onde dói.

11 Comments:

Blogger sophiarui said...

Hallo querido vítor!!!

Deixo-te aqui o convite para o meu teatreco!!!


Um abraço grande

Carla Dias

http://nunolacerda.com.sapo.pt/absurdo/AbI2006.html



POR FAVOR PASSEM PALAVRA

6:38 da tarde  
Blogger maria said...

Meu querido filósofo

já me fizeste ler isto, umas quantas vezes. :)

"Deus é o que dói..."
Ai dói, dói...e ainda bem, digo eu.

beijos, neste caso, sem dor. Só um bocadinho, de saudades.

8:04 da tarde  
Blogger Manuel said...

Oh Vitor!!!
O Baptismo fez-te mesmo bem. A prosa está cada vez mais fecunda! Gostei mesmo deste texto.
"Cristo é o humano revelado na sua inteireza de sentido". Ou outra forma de dizer que a Encarnaçäo é a revelaçäo da "divinizaçäo do humano" enquanto imagem e parte de Deus.

Abraço

6:34 da tarde  
Blogger A Capela said...

Vitor,

Em " Deus é o que doi no inacabamento de seja lá o que fôr", posso entender que porquanto o ser (inacabado ou sem Ele) é incompleto? Bem como todas as coisas que por tal se interrogam?

Se é assim, então digo como a MC: que doi, mas, uma deliciosa dor.

Malu

1:42 da manhã  
Blogger Vítor Mácula said...

Querida Sophiarla.

Palavra passada…

Abraçurdo!

6:00 da tarde  
Blogger Vítor Mácula said...

Caro Miguel Girassol.

Hum hum.

Abraço.

6:00 da tarde  
Blogger Vítor Mácula said...

Queridos MC e Manel .

Filósofo, baptismo, huuuuum… Prefiro desconfiar dos conceitos ;)

Beijos e abraços.

6:01 da tarde  
Blogger Vítor Mácula said...

Cara Malu.

É para ler conforme as estradas que te abrir :)

O ser é completo nada, ou se preferirmos, o nada completa o ser. O nada de passado permite o presente no nada de futuro. Ou nem isso. Mal dito, pois.

Onde está Deus, mesmo que não exista? Onde estou eu? E tu, estás aí?

A dor, é instrutiva.

Desejaria que nenhum adulto se esquecesse das perguntas da sua adolescência.

Abraço.

PS: Porra, estou mesmo pedante, hoje… :)

6:01 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Vitor,

Olha, não consigo comentar a sério. Tu pões-me a rir. Já reparaste que sempre apanho com esse teu P.S? Desmancha-me,rio que nem uma perdida e os meus comentários aqui acabam por ser só gargalhadas ahahah

P. S. E eu estou 'caríssima', não quero!! :D

Malu

11:40 da tarde  
Blogger Vítor Mácula said...

Caríssima Malu.

Gargalhadas é fixe ;)

Abraço.

11:59 da manhã  
Blogger A Capela said...

ahahahahahah :p

2:47 da tarde  

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