segunda-feira, outubro 27, 2008

Agrapha 4

E os escribas e fariseus murmuravam entre si: Este homem põe em causa toda a tradição, não faz ritos nem aos vivos nem aos mortos. E assim o afrontaram na noite do juízo. E Jesus disse: Vêde como falais, raça de víboras. Se celebro nos templos, dizeis que não passo dum carpinteiro que conspurca o sacerdócio; se pego na mão dos vivos e dos mortos e oro em silêncio com eles na presença do meu Pai, dizeis que nada sou e nada faço. É a vossa própria palavra que revela quem vos inspira, falso é o vosso diálogo e o vosso olhar. É na mentira que pretendeis julgar, como querereis que vos responda, se as vossas perguntas não passam de coisas escondidas e veladas que vós próprios não conheceis? E eles, não sabendo o que dizer, falavam de impiedade.

11 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Que deserto será aquele que separa Aristóteles da gnose?
Será a palavra?

12:37 da manhã  
Blogger Vítor Mácula said...

Qual gnose? Pois há evidentemente uma gnoseologia em Aristóteles, como em qualquer bicho pensante: uma actividade mental que se constitui enquanto apreensão conceptual do ser das coisas e suas relações.

Relativamente a uma certa tradição gnóstica, em que se dá um antagonismo entre o espírito e a matéria, entre as formas puras e a temporalidade, não é preciso deserto nenhum a separá-los: eles nem se encontram no mesmo lugar, na mesma possibilidade filosófica ;) As formas separadas são mais platónicas, Aristóteles é o tipo da potência e do acto, da física e da metafísica, etc

um abraço

11:31 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Nomeei a palavra a pensar na palavra escrita e na possibilidade de a gnose não ser esse antagonismo entre espírito e matéria, mas precisamente o lugar da consciência onde ambos se encontram: o movimento (a salvação).

Um abraço e a minha homenagem ao trabalho aqui feito.

4:38 da tarde  
Blogger Vítor Mácula said...

Pois, diga-se que depois de Ireneu de Lião uma certa tradição gnóstica tem sido simplificada, amassada e até vilipendiada ;) É a estória do bebé e da água, assim como da dificuldade universal de contextualizarmos os dizeres de outrem no plano de sentido adequado. Por exemplo, o “Evangelho de Maria” é um texto onde é possível ver fulgurar essa síntese e dinâmica que o Bruno fala; há no entanto uma focagem nos aspectos mentais ou noéticos da conversão e salvação, elidindo toda a corporeidade e temporalidade (nascimento, incarnação, quotidianeidade, morte, ressurreição, nada de tal se encontra lá, embora também não seja negado ou impossibilitado).

Um abraço, Bruno, bom fim de semana.

5:13 da tarde  
Blogger Ana Beatriz Frusca said...

Ta aí um assunto em que sou leiga. De qualquer forma vim agradecer-te ao simpático comentário.
Gostei mais do outro blogue de nome parecido com este,entretanto, tu o fechaste para comentários, e eu adooooro apreciar e comentar imagens.
Beijos.

PS: Entendendo ou não do assunto, voltarei mais vezes, o máximo que pode acontecer é eu dizer alguma besteira e te metralhar de perguntas. LOL!

1:22 da manhã  
Blogger Vítor Mácula said...

Ora, ora, biazinha, eu cá sou leigo em qualquer assunto, é essa a minha posição metafísica LOL E isto é um botequim azul-pirata, agradecem-se besteiras e perguntas, garantindo-se devolução com outras tantas.

Pois quanto ao “ver”, percebo. A minha besteira é ter definido que imagens seriam comentáveis apenas com outras imagens, e não com palavras, enfim, deu-me para aí… e evita-me ter de ir lá espreitar para ver se alguém comentou ;) Mas podes sempre comentá-las aqui.

beijos e vénia, ó da doçura

2:45 da tarde  
Blogger Ana Beatriz Frusca said...

És formado em Filosofia?Teologia? católico?
JAJAJAJA...chama o síndico do blogue pra me multar porque estou muito perguntadeira hoje.:)

Meu momento flood, já que seria bem mais fácil comentar um blogue de poesias(já não basta o Lord com o Luciferismo que chega a dar cabo de meu neurônios, ora bolas!):

Ferindo a Terra, ferimos o Universo e a nós mesmos.

Somos herdeiros do Universo e construtores de uma nova era.

O que gostaríamos de deixar como herança, para nossos filhos, netos e todas as gerações que os sucederem?

Beijos.

10:19 da tarde  
Blogger Gotik Raal said...

Vítor Mácula,

Descobri daqui um caminho que leva às minhas terras. E depois de ler nos teus textos outras pontes que me são caras, fechei o círculo; nem poderia ser de outra forma.
Li toda a portada, e de momento não deixo outro comentário senão o de que me tocou. Tenho aqui muito que descobrir, agora.

Abraço,
Gotik Raal

2:03 da manhã  
Blogger Vítor Mácula said...

Sou deformado em lirismo interrogante, biazinha LOL Vou estudando e escrevivendo coisas por aí e daqui e dacolá.

Quanto ao anseio de relações harmoniosas com o todo envolvente, interior e exterior, pequena terra incluída - sim, há aí um apelo de escuta e comunhão que em mim vibra, do pequeno átomo à pequena máquina, da pequena alma ao pequeno universo ;) Mas como dizia o maior lírico interrogante: Há mais coisas entre o céu e a terra do que a nossa vã filosofia concebe.

E com mais ou menos feridas, mais ou menos fogos de passagem, a herança é formalmente a mesma: deixamos merda e maravilha, para que escolham e se construam livres e aprisionados. Para que (se) decidam, mesmo e sobretudo se não o fizerem.

beijos doces

12:05 da tarde  
Blogger Vítor Mácula said...

Tocado também, Gotik Raal, pelo passeio nas tuas terras de pedra e sangue, que me chamam a percorrê-las mais fundo. Um abraço

12:09 da tarde  
Blogger Vítor Mácula said...

Adenda acessoriamente essencial para a biazinha: sou católico e estudei oficiosamente... um pouco de filosofia ;)

6:16 da tarde  

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