segunda-feira, outubro 23, 2006

Retida vertigem

Deus não existe.

Deus – é o lugar em que se mostra o que existe, e se distingue radicalmente do que existe.

Também se pode dizer que Deus doa a existência que só nele tem raíz, e nesse caso dizer que radicalmente – é todo o resto que não existe, incluindo nós próprios.

Só Deus existe.

Tanto faz.

É o abismo que se deve rigorosamente manter.

19 Comments:

Anonymous Anónimo said...

E se Deus espera de nós que O façamos existir?...

4:09 da tarde  
Blogger Vítor Mácula said...

Batota, JS :P Isso não é existência directa de Deus (ou por si, ou em si, ou whathever).

Na prática: a tensão de fazê-Lo existir não anula a Sua absoluta alteridade. Pelo contrário, constitui-se nela.

Mas para um cristão, a pergunta é:

E em Cristo, é uma existência directa?

Aqui se dá um dos motores do “meu” cristianismo: o Verbo se fez/faz carne.

Mistério que move.

Seja como for (e saberá alguém como é? ;), eu entendo que Cristo não é directamente Deus, tendo no entanto acesso directo a Deus (consubstancialidade, absoluta transparência, da mesma natureza, esses gaguejos ;).

Abraço.

PS: Digo “meu” cristianismo, porque conheço quem se diga cristão e entenda diferentemente esta questão.

4:44 da tarde  
Blogger Andante said...

Ai Vitor que começa a cheirar a heresia (risos)!

Quando é que Cristo soube que era Filho de Deus?
Vá lá, vá lá! Era bem comportado (naquele tempo não havia reguilas?), ajudava o pai e a mãe... Deixou espantados e boquiabertos (quase entrava mosca...) os sacerdotes no Templo.
acesso directo...
Diz-me como.
Obrigada.

Beijos peregrinos e andorantes

5:23 da tarde  
Blogger Vítor Mácula said...

Ai ai doce andante ;) Antes de mais, considero a heresia (escolha) um dos polos da conversão contínua a que somos chamados… Se debitarmos os paradoxos da fé (inteiramente humano e inteiramente divino, para o caso) sem balançarmos dum para o outro, não é na carne da vida que estaremos a viver o cristianismo, mas tão só no discurso e na representação, o que não faz muito sentido pois o cristianismo pretende deflagrar estes para lançar-nos no transcendente e trazê-Lo à vida.

Debitar : Jesus é Deus, sem reflectir no que se está a dizer e tentar viver.

Ora se o « é » significa uma igualdade estrita, teremos de dizer, das duas uma :

- Jesus não é humano, pois nada humano é criador do universo ;

- Jesus não é Deus, pois Deus não nasceu numa noite qualquer num qualquer estábulo.

É a tensão entre ambos que permite e instiga o movimento da conversão. Ou então estaremos a usar os mistérios da fé para os nossos interesses de grupo, ideológicos etc etc etc ao arrepio total do comportamento, precisamente… de Jesus.

É a igualdade irreflectida dos termos « Jesus » e « Deus » que obriga a fixação herética (só Deus ou só humano), ao contrário do que dizem os nosso preconceitos mais apressados.

Não faço a mínima se fui claro… espero bem que não :P

Também não sei muito bem o que é acesso directo ; mas significa que Jesus tem a presença total da presença de Deus nele, tenha ou não consciência disso (tal como eu sou totalmente habitado pela minha natureza, mesmo quando não penso nela ou a/me vou descobrindo gradualmente) ou que Jesus vê o Reino de Deus com a mesma transparência com que eu vejo o meu habitat natural, ou que Ele é da mesma substância do Pai tal como eu sou da mesma substância do universo criado… Mas tudo isto, claro (ou melhor, obscuro ;) está, é um mistério. Chama-nos a mergulhar Nele com confiança e esperança, amor e segredo, e darmo-nos no mundo a partir dessa estilhaçante luz.

Sei lá… ;)

Bjocas de contínua conversão, peregrina, e para a turma também ;)

11:41 da manhã  
Blogger aquilária said...

viktor, viktor
julgo que te entendo, apesar das (quase constantes, reconheço e assumo) desarrumações mentais, minhas.

o imperecível mistério, em tudo, antes e depois de tudo.

e Cristo, o último degrau da escada?

abraços mil

2:53 da tarde  
Blogger Andante said...

Obnrigada, foste claro!

A turma foi hoje ao teatro.
Eles gostaram. Eu adormeci...
Como vou outra vez, com a Cláudia (foi a uma consulta ao IPO)e a Ana Rita (já foi também minha aluna, não cortam o cordão umbilical e eu fico toda vaidosa por me escolherem...
Eu sei que a vaidade é "pecado", mas é tão bom ser-se reconhecido depois de aparentemente deixarem de "precisar" de mim. E lá vou eu, novamente, toda contente, desta vez sem dormir pois somos poucas.

Bjocas peregrinas.

9:52 da tarde  
Blogger Vítor Mácula said...

Oh Akilária, Akilária, não queiras competir comigo em termos de desarrumação mental! ;)

A cena do mistério é delicada, porque precisamente, não está em cena… Não é o como o mundo é que põe o místico; místico é o facto de haver mundo - dizia o amigo Wittgenstein, pessimamente citado de memória. Há momentos em que somos tomados por esse espanto, não das coisas serem assim ou cozido, de serem laranjas ou poemas, mas simples e brutalmente o facto de elas estarem aí, e nós também. Como se a presença das coisas não se esgotasse ou fechasse em si… há um halo, uma aura. Nem sequer é a beleza; poderia dizer-se – o algo em que tudo se dá, não no sentido de lugar mas… (silêncio).

A estapafurdice afirmação cristã de que Jesus é o Cristo (ungido) diz que Jesus vê esse “onde se dá tudo”; e vê-o, porque é participante directo da natureza disso.

Jesus enquanto humano seria a escada (ligação com a nossa natureza) e como divino seria o lugar de chegada (ligação com o para lá de seja o que for).


Acreditar e viver focado neste estapafúrdio, já é outra conversa (ou não conversa).

Eu acredito. Se calhar é da desarrumação mental ;)

Beijos desarrumados e desarrumantes :) :)

12:47 da tarde  
Blogger Vítor Mácula said...

E tu ages claro, Andante.

A luz da vida em amor trouxeste a este botequim com o teu comentário.

Deus abençoe.

Um grande beijo.

12:52 da tarde  
Blogger caminante said...

Caro Víctor, cierto. Las cosas no están simplemente ahí. Cada una nos habla de esa sed de infinito que anida en el corazón del hombre. Porque las cosas no aciertan a llenar el vacío de plenitud.
Y "creer" es aceptar, racionalmente, lo que nos sobrepasa. Mas, sobrepasándonos, no repugana a nuestra razón. Simplemente va más allá.
Y Cristo Jesús es -nos lo dice Él mismo- Camino, el único Camino para llegar al Padre. Pienso que en ese sentido es -en frase-pregunta de Aquilaria- la última escalera para llegar. O la primera.
Un fortísimo abrazo.

8:07 da tarde  
Blogger caminante said...

Caro Andante, Jesús tiene conciencia clara -no olvidemos que es el Hijo Único del Padre- de que es Hijo de Dios desde siempre. Su persona es divina. Sé que esto lo sabes bien.
Víctor lo explica muy bien.
Un fortísimo abrazo.

8:11 da tarde  
Blogger Daniel said...

Custa-me a ler algumas destas coisas. A divindade de Cristo nunca pode ser posta em causa. Ele é o que existe antes do principío, Ele é o que se movia face a face com Deus, e compartilhava dessa essencia de Deus.
Depois esse mesmo cristo, que na eternidade era Logos, se fez carne para revelar o Deus invisível. Ele o Logos, O cristo sem carne, é divino. Outra coisa, não existem deuses menores. Dividam o infinito por dois e quanto dá? infinito, permanece igual. deus é infinito, e Jesus não pode ser um "infinito menor" porque isso é intrissecamente impossível.

Agradeço uma visita a:

www.danielaurelio.blogspot.com

8:55 da tarde  
Blogger Vítor Mácula said...

Olá, Caminhante.

Caríssimo… Sim, não repugna à razão, mas… desarruma-a, ou melhor, arruma-a para fora de si ;)

Abraço.

12:44 da tarde  
Blogger Vítor Mácula said...

Caro Daniel.

Tudo pode ser posto em causa, até a nossa própria existência. Se se deve ou não, já é outra conversa… Mas é preciso tentar ter noção de cada qual, do outro na sua diferença, para dar-se conversa.

Você separa o Jesus (humano) do Cristo (Logos divino, ou unção deste). Faltaria esclarecer essa distinção e relação unitiva. Faltaria talvez e também, reler o post e comentários anteriores com mais atenção :P

Abraço.

12:46 da tarde  
Blogger Administrador said...

Visita o blog “Só Deus Basta” e opina sobre o referendo ao aborto!

4:25 da tarde  
Blogger caminante said...

Caro Víctor, creo entender que Dios nos ex-tasía (nos sca de nosotros). Bien. Pero es justamente Dios quien nos mete en nuestrfo propio ser, quien nos hace entender lo que somos y para qué somos.
Cuando alguien nnos sorprende, nos descoloca, ¿cierto?
Un fortísimo abrazo.

10:50 da tarde  
Blogger caminante said...

Dos correciones a mipost anterior:
1.- debe decir (NOS SACA DE NOSTROS)
2.- NOS METE EN NUESTRO PROPIO SER.
Perdón.

10:55 da tarde  
Blogger Vítor Mácula said...

Caros discípulos… Bom dia… Opinião?... Referendo?... As opiniões são os abortos do pensamento… E os referendos, referem-se inexplicitamente a muita coisa a leste do conteúdo explicitamente referendado… Compliquex… ;)

10:07 da manhã  
Blogger Vítor Mácula said...

Bom dia, Caminhante.

Ciertíssimo;)

Nos descoloca para colocar-nos na verdade de nós – de que estamos apartados.

Abracíssimo

10:09 da manhã  
Blogger Vítor Mácula said...

Caro Quarentaom.

A verdadeira economia natural (incluindo a genética, e uma profunda parte da societal) é inapreensível na sua totalidade pela razão.

As engenharias absolutas da sociedade, não passam de cegueiras, com os perigos inerentes a estarem inconscientes da sua própria e profunda ignorância, inconsciência que perverte na raíz o pouco ou muito que acabam por saber.

Bom dia.

10:13 da manhã  

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