segunda-feira, abril 14, 2008

Crepúsculo

É depois do mundo, muito longe. Toda a gente desenha, escreve, fotografa, actua, dança, canta, filma, cozinha, guarda os mortos, filosofa. Ninguém sabe muito bem o que está a fazer. Ou sequer se isso importa. Quase todas as noites há angústias novas, insuspeitas alegrias. Ninguém olha o mar da mesma maneira que há bocado, muito raramente, tão raramente que quando ocorre, é imediatamente registado como ocorrência curiosa, interrogativa. Algo vai ressurgir, toda a gente o sabe e não o diz. E não será uma palavra. (E, e não porque.) Não será pois um ressurgir, isto é apenas um modo de falar, digamos que algo vai ser. O próprio surgir, dizem alguns no momento em que confusamente filosofam, mas também isso é um modo de falar, apenas isso, um medo expectante e confiante.

9 Comments:

Blogger maria said...

"todas as noites há angústias novas e insuspeitas alegrias"

Precisamente. belo.

beijos :)

5:44 da tarde  
Blogger Vítor Mácula said...

Em tudo o que já fomos está o que seremos
No fundo desta noite tocam-se os extremos

E se soubermos ver nos sonhos o processo
Os passos para trás não são um retrocesso

A noite é um sinal de tudo quanto fomos
Dos medos, dos mistérios, das fadas e dos gnomos
Da ignorância pura e da ciência irmã
Em que, sendo passado, já somos amanhã

A noite é o espaço vago, o tempo sem história
Em que as perguntas nascem dentro da memória
Em tudo o que já fomos está o que seremos
Mas cabe perguntar: Foi isto que quisemos?

(do amigo Zé Mário;)

bjocas, mana

4:19 da tarde  
Blogger maria said...

pois...precisamente. É o que me pergunto sem fim: foi?

vendo bem, acho que nem teria ousado tanto. e tu? ;)

4:17 da tarde  
Blogger maria said...

pois...precisamente. É o que me pergunto sem fim: foi?

vendo bem, acho que nem teria ousado tanto. e tu? ;)

4:17 da tarde  
Blogger Vítor Mácula said...

Os resultados dos actos raramente coincidem com a intenção; mas revelador nos são tantos equívocos de Colombo.

Por vezes, ousei mais: ex nihilo.

bom fim de semana, queridíssima

11:22 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

belíssimo texto este teu, amigo vitor.
é um comum sentido sentimento expectante que nos une ao e no agora. que será que será que surtirá ? não sabemos . saberemos suspeitando apenas embora ? eclosão de cor mais do que de palavra q eclode já ... bom fin-de-semaine caro -- com olhos despertos. teu angelo ochoa

3:24 da tarde  
Blogger Lord of Erewhon said...

Tá-te a dar para os milenarismos apocalípticos? Aguenta que ainda faltam 992 anos! :)

Abraço.

2:37 da manhã  
Blogger Vítor Mácula said...

O que será que será, que andam suspirando pelos botequins... :)

Abraço, amigo Ângelo, e bom início de semana.

11:05 da manhã  
Blogger Vítor Mácula said...

992 anos?... Fia-te na virgem... :)

Abraço, bispo

PS: O apocalipse é em cada um de nós.

11:07 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home