segunda-feira, maio 25, 2009

Humanautas 2

1. O sentido da voragem move o animal. São os dados imediatos que o alimentam, o contacto directo correndo-lhe nas veias percepção a percepção. O mundo come-o e alimenta-o.

2. O animal suspende-se no vazio da sua consciência – é o espanto do mundo que o olha. A própria limitação da percepção afirma a existência do não-percepcionável. O animal olha aquilo que não vê e cega de frémito contente.

3. Brechas abrem-se no corpo do animal, por todo o lado. Olhos despontam nalgumas, noutras espelhos. Na sua imobilidade se dinamiza o seu despertar, letargia de sabedoria. O animal não espera, e queda-se.

4 Comments:

Blogger Gotik Raal said...

Olá Vítor,

Por vezes penso que digo sempre a mesma coisa quando escrevo. E sem te querer ler da mesma forma, ainda assim me parecem sempre familiares, os teus textos. As brechas, olhos e espelhos - dois sentidos do mesmo caminho; e depois a mesma transparência da casca de cebola, descobrindo que a essência, quando tudo o resto se acaba, reside afinal em qualquer outro sítio. A voracidade é o ponto de partida, mas também esta se transforma nessa viagem de todos os "nautas".

Abraço!
Gotik

1:19 da manhã  
Blogger Vítor Mácula said...

Duas ou três obsessões chegam para descascar uma vida até ao osso; ou então fugir delas e descansar no consenso e no comum, até que a morte venha por fim partir o osso LOL

Nada de criado começa e acaba em si, claro; qualquer “algo” implica o universo inteiro, e o tempo todo (o tempo é uma das minhas obsessões fundamentais; e o rosto do outro; a relação entre ambos é avassaladora, como se sabe e vive).

“Descascar uma cebola até Deus.” (Fernando Pessoa); um imenso “nauta”, este ;)

Qualquer essência implica a mente divina, pois.

Um abraço, Gotik, e que a familiaridade seja um clarão na infinidade do sentido!

3:55 da tarde  
Blogger Gotik Raal said...

Quem rói a carne, rói o osso.
Quem rói o osso vai à medula.
Quem atinge o âmago vê o princípio.
No princípio rói-se a carne.

Um abraço, Vítor, e nesse sentido já lá estamos, ainda que as palavras venham sempre depois do clarão ;)

10:33 da tarde  
Blogger Vítor Mácula said...

sim, sopra sempre o ad-vento ;) em si como um maelstrom, e então no frémito do espelho e dos olhos e na pálpebra que cerra no sono e serra na morte.

e então em cada acto a acção que “chama a si toda a vida”.

abraço, Gotik, e que a semana pentecoste!

11:48 da manhã  

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